28.2.07



FUGA

Fugir-te .
Mas não hoje - hoje não.
Tenho de preparar-me
para o galope branco da fuga

Não posso dizer-me: parto agora
e partir, pronto.
Pensando que ia, teria ficado todo para trás

Pouco posso contra o teu universo.
Não sou Bogart, não sou Brando
não lutaria por uma ideia política.
Pouco posso - talvez um verso.
Ontem ainda teria ido a tempo.
Oferecia-te a flor que me pedes desde o início
fingiria gostar de animais
e, claro, iríamos ao cinema.
Devia ter convivido mais com o teu Bogart, com o teu Brando.
Devias ter tido o cuidado de investigar a atitude dos príncipes
as certezas dos guerreiros
mas quando cheguei
já o teu universo estava repleto

E agora posso pouco - nem mesmo um verso
Hoje não. Mas quando puder
partirei no primeiro barco.
Procuro o sítio ínfimo
onde os melros se matam sozinhos.


João Habitualmente

1 comentário:

ana marta disse...

Há quem não queira Bogarts nem Príncipes. E há a certeza de quem sabe isso. Há quem queira tão só o calor de palavras banais e flores recolhidas na rua, as coisas fúteis e triviais, que as coisas complexas povoam há muito o reino que é o meu pensamento. A vida por vezes é mais simples e o essencial não é visível aos olhos. Auscultar o pulsar do sangue e ouvir o ar que entra ao inspirar... A suprema glória da contemplação de quem se ama. Só isso.

arq.